quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A velha janela da vida

Todos os dias quando acordo, olho por aquela velha janela, que expõe o também o velho mundo.
Olho ao meu redor, só coisas velhas:
Minha cama é velha, com cobertas velhas que denotam o quão velha é a minha vida.
Minhas persianas de madeira velha, com cortinas de renda velha e branca.
O pó dá o tom de cinza à cena, que reflete o dia cinza que vejo fora da janela.
Lá fora, no jardim, avisto uma flor no canto esquerdo de um tom de rosa brilhante.
Que acabou por ofuscar o meu tédio e foi colorindo todo aquele jardim pálido.
Colorindo o céu, a grama, o lampião e até o banquinho de balanço perto do pomar.
O dia “enrolarando-se” foi tomando conta de mim.
Senti aquela leve brisa com fragrâncias de rosas amarelas.
Senti o Sol me trazer a vida, que vagava perdida naquela estrada de terra.
Ouvi o portão branco da frente ranger.
Percebi o caminhar vagaroso e confiante que se seguia.
Pude reconhecer os sapatos em preto e branco percorrendo a estradinha de pedras.
Dos meus dias repetitivos, esse era a estréia.
E o vento trazia-me o mais novo espetáculo da vida: você!
Você que corria pelo jardim em um macacão jeans surrado.
Brincava com a mangueira, a regar as rosas amarelas.
As mesmas que eram levadas pelo vento, espalhando sua leve fragrância, embriagando todos os lados, todos os ventos, todos os tempos.
Lembro-me daquele aniversário e, por conseguinte, aqueles chapéus engraçados.
As velas acesas em forma de círculo, cujo raio valia 2,5cm.
A roda de amigos passando de mão em mão a verdade.
Compartilhando experiências de mundo, de tudo, do eu.
Sorrisos, tristes histórias lembrando os amores mal vividos.
O tempo e o cupido, que arrebatam a gente sem nem pedirmos a toalha vermelha da paixão.
Naquela noite lavamos a louça na nossa cozinha amarela, de cortinas xadrez, que ficava ao lado do pomar.
Você me amou naquela cozinha e acordamos em meio às torradas do café.
O leite fresco fervido pra deleite, a rosa vermelha que servia de enfeite.
Artificial como nosso tempo, que acelera cada passo, cada “traço” de vida corrente.
Que empurra pra frente à vida madura que merece a criatura, num mundo colorido e cheio de magia.
A nuvem macia demais aperta o quadrante do vento e assola o tempo.
O grande campeão da pressa e da imperfeição.